Acho que uma das coisas mais devastadoras é quando a gente percebe que errou a mão com os filhos. Você não acha? Estava tendo esta conversa com meus pais ontem e eles, como sempre, me surpreendem com sua capacidade de renovação enquanto pais. E olha que eu já tenho 32 anos!
O fato é que errar a mão na bronca é devastador. Parte-me o coração ver que minhas filhas não só entenderam o que eu quis dizer, mas também se entristeceram com o modo. Acho que os erros nos conduzem ao aprendizado e sou contra a educação do terror, mas às vezes o tom de voz sai mais alto do que espero ou as palavras são mais complexas e duras do que devem ser. Muita calma nesta hora, só para esclarecer não estou falando de palavrões e gritos de acordar os vizinhos! Falo daquela linha fina entre “muito bom e um pouco demais”. Uma das partes mais importantes no aprendizado de ser mãe é saber dosar a bronca e troná-la eficaz, mas sem gerar mágoas e tristezas novas, pois em minha opinião, passar dos limites abre um perigoso caminho e crianças não sabem solucionar esta complicada equação dos sentimentos.
Eu estava tomando banho e as meninas, como sempre estavam abrindo os armários em baixo da pia para ver os sabonetes coloridos e os cacarecos que deixo neste local estratégico. Esta é uma solução que achei para conseguir ficar de olho nelas e cumprir as tarefas básicas do dia a dia, como tomar banho. Muito bem, acabei o banho e a minha filha mais nova que adora fechar as portinhas do armário, se recusou veementemente a seguir nossa rotina, imagine que eu estava toda molhada, com váááááários sabonetes no chão e com outra menina tentando me mostrar um castelo de lego que ela havia feito sobre os sabonetes. Ok, nada que seja diferente de sempre. No entanto pedi para a Iris fechar a porta do armário, pois eu precisava sair do chuveiro, ela negou várias vezes rindo da farra que estava aprontando até eu falar muito sério e muito brava (um pouco demais... cai na armadilha de pensar que eu poderia tudo por ser a mãe dala). Ai ela fechou a porta e fez aquele biquinho de quem está segurando o choro, um choro triste. Sai do chuveiro, corri até ela e a abracei. Pedi desculpas e dei uns beijos. Ela parou, eu parei. Ela se acalmou eu me acalmei.
Acredito que é parte do papel de ser mãe e pai dar bronca nos filhos, falar sério e ser firme nas opiniões, porém algumas vezes exageramos na inflexibilidade e nos convencemos, estupidamente, de que temos um papel superior ao dos nossos filhos. Disso discordo, discordo mesmo. Não vejo minhas filhas tendo um papel inferior ao meu, vejo as minhas filhas como as protagonistas da minha vida e que me ensinam a ser uma pessoa melhor comigo mesma, com elas e com o mundo.
Elas me ensinam a ser mais gentil.