Balaio de Mãe



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Nós é que somos muito sensíveis

30/10/2014 14:46

 

Apesar da vida corrida e dos milhões de afazeres, tem uma coisa que não abro mão. Pintar o cabelo. Juro que neste início da minha terceira década de vida, apareceram mais fios brancos neste couro cabeludo do que caíram gotas de chuva em São Paulo. Costumo brincar que se não pintasse o cabelo poderia descolar uma cadeira preferencial no metrô e quem segue esse processo de tintura mensal sabe como é demorado e chatinho, quem não segue e está de bem com a vida, ganha aqui a minha máxima admiração, apoio e suporte. Bom além de muitos fios grisalhos, eu tenho uma quantidade enorme de cabelos (compridos e grossos), assim o processo passa de longo a beirando o infinito.

Quero dizer que tenho tempo o suficiente para sentar na cadeira do salão e colocar a vida em dia. Ontem não foi diferente, deixei as meninas com a minha mãe, levei Iped, músicas, livros, alguns trabalhos que precisava rever e umas coisas de outro projeto que está saindo do forno. Estava decidida a traçar os caminhos deste último bimestre, mas não consegui. Não consegui pela simples razão que explico agora. Nasce um texto e uma dor no coração.

O salão estava vazio, tinham apenas duas clientes e eu. Sentei ali na cadeira e a moça começou a iniciar o corajoso processo na minha mega juba. Enquanto ela fazia sua musculação, sentou-se ao meu lado uma senhora de uns 50 anos, outra assistente começou a trabalhar no cabelo dela. Vi que as duas já se conheciam, relativamente. Começaram uma conversinha sobre a vida, até que a cliente que estava falando compulsivamente sobre si e sobre sua vida observou que a assistente sortuda estava meio tristonha, prontamente ela falou que havia brigado com o marido, mas que tudo estava se resolvendo. Aqui começa a história.

Aquela cliente que falava tanto si e que inicialmente havia me causado certo desconforto, começou a consolar a moça lindamente, com palavras que talvez uma tia próxima a mim pudesse ter usado caso estivéssemos na tal situação. Depois de uns 40 minutos, a cliente chamou a sua assistente e disse em um tom de voz bastante constrangido:- Sabe, deixa-me contar uma coisa para te aliviar. Quando falei que tenho um coração bom (sim, ela havia falado de seu belo coração anteriormente), eu somente repeti o que meu marido diz. E olha que ele não é um bom marido, mas nisso acho que ele tem razão.  Você eu somos muito parecidas.

Depois, baixou ainda mais o tom de voz e continuou:- Na verdade meu marido me xinga. Me xinga muito e por qualquer coisa! E olha que eu não estou falando de palavrinhas que a gente fala aqui e ali. Até meus filhos perguntam como eu aguento esse tipo de tratamento (neste ponto, eu me perguntava também como ela aguentava). A assistente estava olhando para os seus pés e absolutamente sem graça, disse:- Falar mal é bem chato...

A cliente continua:- Ele xinga, xinga, xinga e eu não consigo ter raiva dele. Sei que esse é o jeitão que ele sempre teve. Eu escuto e fico quieta, sei que isso passa (Ela está casada há 28 anos). Ela continua:- Ele fica muito bravo quando falo que estou com vontade de comer alguma coisa ou que mudei o xampu, mesmo com os meninos ele era assim até o Pedro enfrentá-lo... ele era assim com os garotos... Meu marido é uma daquelas pessoas de opinião forte, sabe? Não tem jeito, homem é assim mesmo, eles não tem estes sentimentos que a gente tem, nós somos muito sensíveis.